Leitura Bíblica: Lucas 6.37-38
Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós (Cl 3.13).
Amy Seeger conta a história de Clara Barton, que fundou a Cruz Vermelha americana. Comprometida com sua missão, continuou a exercê-la mesmo na velhice. Ela ia aonde quer que houvesse alguém precisando de conforto. Aos setenta e sete anos, estava nos campos de batalha de Cuba, na guerra hispano-americana. Clara continuou seu trabalho até morrer, aos noventa e um anos. Um dia, já bem velhinha, alguém a lembrou de uma ofensa que lhe fora dirigida, anos antes. Mas ela agiu como se jamais tivesse ouvido falar daquilo. Não se recorda? – a amiga perguntou. Não. – Clara respondeu, – Lembro-me nitidamente de ter esquecido isso.
Muito boa a sua explicação: “Lembro-me que esqueci”. Existem atritos realmente impossíveis de serem esquecidos. Na vida passamos por momentos de desentendimento. Por mais pacífico que alguém seja, enfrenta um dia oposição. O que não podemos e não precisamos é guardar ódio ou rancor das pessoas. Somos chamados a perdoar aqueles que nos ofendem. Este perdão não significa necessariamente esquecer o fato. Mas, como disse Amy, deixar o fato fora da pauta de assuntos a serem resolvidos. Acredito que quando ela disse que lembra de ter esquecido ela quer dizer que se lembra nitidamente do dia em que realmente perdoou, retirou de cena o rancor, o desejo de acertar as contas e de vingar-se.
De certa forma podemos dizer que perdoar é esquecer. Mas não uma forma de amnésia. O que foi registrado em nossa memória faz parte da nossa história. Perdoar é esquecer, mesmo quando lembramos de fatos desagradáveis ocorridos. O poder do amor e perdão já apagou os sentimentos ruins, a dor, a revolta, o desconforto que foi gerado na época. É como uma enfermidade que passamos, podemos lembrar de uma cirurgia, de um acidente, mas não sentimos qualquer dor. Estamos curados mesmo que ainda existam cicatrizes para mostrar.
Perdoar é a melhor forma de exercer bondade.